terça-feira, 14 de abril de 2015

A HERANÇA BRASILEIRA DAS VANGUARDAS - TEXTO PARA ANÁLISE " O PASTOR PIANISTA"


   


A principal herança das vanguardas europeias para a literatura brasileira, além da influência localizada que algumas delas exercem sobre certos poetas e escritores, é o impulso de destruir os modelos arcaicos, desafiar o gosto estabelecido e propor um olhar inovador para o mundo. Ruptura e transformação - dois termos que definem bem o espirito da primeira geração modernista, como veremos nos próximo estudos.

Justamente porque tiveram em comum o desejo de questionar posturas convencionais e coragem para ousar, não se pode falar em uma “ tradição” específica das vanguardas. Seria até uma contradição pensar que movimentos tão desafiadores estabeleceriam “ padrões” a serem seguidos em momentos futuros. Seu legado foi a irreverência diante de todo e qualquer padrão preestabelecido.

Com suas propostas agressivas, iconoclastas, desafiadoras, as vanguardas libertam a arte dos modelos que, durante séculos, dominaram o olhar dos artistas para a realidade. 

Em resumo, criaram uma nova arte para um novo mundo e uma nova humanidade.


                                          Texto para análise



                   O Pastor Pianista




Uma estranha situação é apresentada neste poema: pianos são “ pastoreados”

Soltaram os pianos na planície deserta

Onde as sombras dos pássaros vêm beber.

Eu sou o pastor pianista,

Vejo ao longe com alegria meus pianos

Recortarem os vultos monumentais

Contra a lua.

Acompanhado pelas rosas migradoras

Apascento os pianos: gritam

E transmitem o antigo clamor do homem.

Que reclamando a contemplação

       Sonha e provoca a harmonia,

       Trabalha mesmo à força,

       E pelo vento nas folhagens,

       Pelos planetas, pelo andar das mulheres,

       Pelo amor e seus contrastes,

      Comunica-se com os deuses.
 
                                      MENDES, Murilo. Poesia liberdade.

In: Poesia completa e prosa. Organização de Luciana Stegagno
Picchio. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.v. 1.p.343.                   



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